quinta-feira, 7 de julho de 2011

O craque que foi renegado

Alguém gosta de ser deixado de lado quando precisa? Há qualquer pessoa no mundo que não fique sentida quando alguém lhe vira as costas? Eu não conheço.
Existe gente que tenta e faz de tudo pra ser reconhecido. Uns mudam a maneira de se vestir, outros a de agir e outros até de opção sexual - o que tem sido muito comum ultimamente. Tem gremista que vira colorado por causa daquela mulher que sempre sonhou, e colorada que vira gremista pra agradar uma amiga.

Em tempos de alta maleabilidade das pessoas, essas mudanças ficam muito visíveis no futebol. Houve o tempo de fazer o corte de cabelo no estilo "Cascão", como o do Fenômeno. E agora é tempo de moicano e chuteira colorida. O time do Santos é quase todo de seguidores do Neymar.
No Grêmio, o criticado Leandro segue a onda. O menino imita o santista até no modo de jogar. Quando alguém chega perto, ele cai. E os árbitros, diferentemente, não caem na dele. No entanto, antes de punir com cartão amarelo, os árbitros preferem virar as costas ao jogador, assim como alguns clubes argentinos fizeram com Messi.

O craque "argentino", então com 13 anos, foi diagnosticado com uma doença que afetava o crescimento. Pediu ajuda. Bateu na porte de vários clubes da Argentina. E o que recebeu? Nada. Ninguém se dispôs a pagar o tratamento dele. Como a família não tinha dinheiro, foi à Europa.
Chegando à Espanha, o Barcelona se dispôs a bancar os gastos com a saúde de Messi. Ele cresceu lá, onde o trataram, cuidaram dele e o deram uma estrutura fantástica para fazer o que mais gostava: jogar bola.
Messi tem 24 anos. Vive e joga na Espanha há 11. Desenvolveu todo seu talento aos olhos do povo do oeste europeu. É quase como um deles.
Talvez seja essa a resposta por ele não demonstrar a mesma vontade de jogar pela Argentina. Messi cresceu na Catalunha, a torcida o ama, o trata como um filho. Muito diferente do que vê no país onde nasceu.
O craque pode até mostrar um bom futebol ao longo dessa Copa América e até na Copa do Mundo, em 2014. Mas o orgulho de vestir a camiseta? Esse não aparecerá.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Que mais 40 anos venham por aí

Sempre me perguntavam o porquê de eu gostar tanto de futebol. Nunca soube. São tantos motivos. Talvez por minha família sempre falar disso, ou só porque é assim. Aqui no Brasil, homem que não gosta do esporte bretão é diferente. E eu não sou. Ouço futebol desde que me conheço por gente.
E é no ouvir que eu me refiro. Lembro de entrar no carro e querer saber quem eram aqueles "tios" discutindo. Lembro de ver meu pai comentando: "Ah, esse aí era amigão do teu tio."

Cresci. Acho que eu não consigo mais ouvir aquele programa com a mesma frequência de antes. No entanto, o mais legal é saber que ele ainda tá ali. Se eu ligar o rádio depois do almoço, eles, aqueles mesmos "tios", vão estar fazendo o mesmo: discutindo. Alguns mudaram de voz, de fisionomia (o tempo passa pra todo mundo), mas a magia do Sala não.

Ruy, Lauro, Paulo Sant'Ana, Cacalo, Kenny, Guerrinha e Wianey. Esses são os caras que fizeram eu gostar tanto de rádio e futebol. Ouvindo-os brigar e debater na hora da digestão, acho que aprendi bastante do que eu sei. Mesmo que ainda seja pouco.

Hoje, 27/06/2011, o Sala de Redação faz 40 anos. Junto com ele, aparecem os principais momentos da dupla GreNal, da Seleção Brasileira e do futebol. Da Seleção, o Sala fez parte do jejum de longos 24 anos sem um título mundial. Da dupla, viu um cair pra segunda divisão e o outro lamentar não ter título internacional. Viu os dois ganharem um Mundial e perderem outro. Haja história pra contar!

Obrigado ao Sala! Mais especialmente àqueles sete (agora seis, com a saída do Ruy) que hoje fazem parte dele e me fizeram, em algum momento da vida, optar pelo curso que faço. Pode ser que continuem me perguntando a questão inicial desse texto. E eu vou continuar sem saber. Mas, se algum dia, quiserem saber o que me fez escolher pelo jornalismo, eu vou poder dizer que aqueles "tios" que brigavam por futebol foram diretos responsáveis.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O último dia 20 de abril...

Não pensava noutra coisa que não fosse o último dia 20 de abril. Mais uma vítima para os números do governo. Outra pessoa que partia por causa do descaso com as rodovias. Dessa vez, o culpado era ele? O porquê disso, nem ele mesmo sabia. Tratava sua amada como a última mulher do mundo. Aquela estrada era conhecida pelo alto índice de acidentes, mas ao senhor de 70 anos, nunca havia aparecido surpresa desagradável. Nunca. Até o último dia 20 de abril.
Naquele último dia 20 de abril, acordou mais cedo. Com as malas prontas, resolveu preparar um belo café da manhã para os dois. Aprontou o prato preferido dela - o mesmo que, por sorte, tinha em sua casa 50 anos atrás, quando se conheceram. A mesa estava posta: os remédios enfileirados ao lado dos talheres, as torradas de requeijão prontas e o café passado. O cheiro do grão tomava conta da aconchegante casa de dois quartos. Chamou sua mulher. Discutiram sobre a idade do bisneto que visitariam em Dom Pedrito. Para ela, faria cinco anos. Para ele, quatro. Mal sabiam os dois que aquela seria a última pequena intriga. Justo no último dia 20 de abril.
Ele desceu com as malas, as colocou no carro e subiu. O fôlego para aguentar os cinco lances de escada do antigo prédio não era mais o mesmo. Sentou na sala e esperou alguns minutos. Quando perdia a paciência, ela apareceu na soleira da porta com o presente pelos 50 anos que dividiram juntos. Era uma foto dos dois. Ampliada e emoldurada. A data, atrás, mostrava 20 de abril de 2011. O último.
Faltavam 17 quilômetros para chegar na cidade onde se conheceram e que ainda possuíam amigos e familiares, incluindo o bisneto. Lá, ele a levaria para um velho trapiche e mostraria as novas alianças, adquiridas em algumas parcelas junto a um conhecido do casal, dono de uma joalheria. Dentro delas, estavam escritos seus nomes e aquele dia: o último dia 20 de abril.
Infelizmente, as alianças não foram trocadas. Os 17 quilômetros continuaram existindo. Chovia. O carro aquaplanou, capotou e recebeu uma pancada de outro que vinha na direção contrária, acertando em cheio o lado do carona.
Agora, ele estava no hospital. Uma das pernas enfaixadas, a foto dos dois sendo equilibrado nas bernas, e a aliança no bolso.
Para o governo, mais uma vítima naquele 20 de abril. Sua mulher não notou que a data era a última. No entanto, para ele, aquele era o último dia 20 de abril.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Os grandes despedem-se com honra

Despedidas não são legais.
Meu irmão foi morar em Salvador no início de 2009 e acho que aquele dia foi um dos mais chatos que eu já vivi.
Lembro que uns dias depois era o aniversário dele e aquele nove de março foi o primeiro que passamos longe. Agora ele tá lá, feliz. E confesso que, com a distância, a nossa "irmandade" aumentou.

Hoje, 07/06/2011, um ícone do futebol mundial dá adeus aos campos. Nunca vi um cara que soubesse colocar a bola pra dentro das redes como o Ronaldo. E mais ainda: nunca vi alguém passar por tantos problemas na carreira, e na vida pessoal e, mesmo com alguns quilos a mais, comandar um time do tamanho do Corinthians numa Copa do Brasil. Aqui, cabe-se salientar que nenhum outro jogador faria o que ele fez estando naquelas condições físicas.
Ronaldo comoveu na sua lesão mais marcante, em 1999, pela Inter de Milão. Todos amantes do futebol emocionaram-se e muitos, aqui me incluo, duvidaram que um dia ele pudesse voltar. E ele nos calou. Calou sendo fantástico.

Fenômeno (gênio, mestre...) foi o responsável pela única Seleção Brasileira que a minha geração viu jogar e teve gosto de torcer: a contestada equipe de 2002. Ronaldo decidia. Confesso que quando voltou ao Timão, em 2009, torci por ele. Quis vê-lo ganhar o Paulistão de 2009. Apreciei o gol no Santos, por cobertura, quase como o que nos deu a taça do Mundial, sete anos antes. Oliver Kahn e Fábio Costa que me perdoem, mas vocês mereceram tomar aqueles gols.

Ronaldo vai, mas sempre será um ícone do futebol brasileiro. O ídolo de toda uma geração. Essa #geracaoronaldo, que passou o dia nos Trending Topics do Twitter, vai lembrar dele pra sempre.

Assim como a distância nos incomoda, por sabermos que não veremos mais quem gostamos com tanta frequência, ela também aproxima. Ronaldo será lembrado pelos lances grandiosos, pelas arrancadas, pelos passes e pelos dribles.

Dentro de 20 ou 30 anos, quem da Geração Ronaldo não contará para os filhos que vibrou com os gritos de Galvão Bueno, naquele 30 de junho de 2002, enquanto Ronaldo apontava o dedo indicador pra cima?

domingo, 5 de junho de 2011

O futebol une

Em tempos de divisão e distanciamento entre gerações, ainda há o que as une: o futebol.
Eu estava na casa de alguns amigos e eles eram acostumados a frequentar os jogos de seu time do coração. Convidaram-me e eu, como amante do esporte bretão, os acompanhei.
Colocaram o carro em um pequeno estacionamento, à frente do estádio. As vagas eram pequenas e muitas manobras precisavam ser feitas até encontrar o espaço certo para que outros carros pudessem entrar.
- Por que aqui? Têm outros lugares aqui perto que são bem mais livres e fáceis de colocar o carro - perguntei.
- Espera, cara. Vou mostrar o motivo disso - respondeu um amigo meu, sorrindo.

Ele me levou até uma casinha que ficava no fundo do estacionamento. Bem simples. Eu não a notei. E muito menos imaginei que alguém pudesse morar lá.
Dentro dela estava um senhor de mais ou menos 80 anos.
- Tão bom que tenham vindo. E tem cara diferente aqui. Quem é o garoto? - indagou o Senhor.

Me apresentei e sentamos. Ainda faltavam pouco menos de duas horas para o jogo começar. Lembro-me que estranhei termos saído tão cedo da casa, mas não falei nada por achar que era um costume deles.

Confesso que naqueles quarenta minutos dentro daquela casinha, nunca aprendi tanto sobre o futebol. Lembro-me de ter ficado abismado com o conhecimento daquele senhor.
Já ao final da conversa, o filho dele, que havia nos recebido na entrada do estacionamento, entrou na casinha.
- Falta uma hora pro jogo começar. Será que ganhamos hoje? - falou com um sorriso de satisfação no rosto.

Meus amigos responderam que sim. Um apostou no 3x1, outro no 2x0 e o pai, sempre desconfiado com a qualidade do time, os contrariou.
- Não sei não. O time tá bem, mas não pode se arrepender e mudar a forma de jogar - exclamou o pai com ar de dúvida.

Nos despedimos deles e fomos para o jogo.
Na caminhada até o campo, eles me explicaram direitinho: o senhor tinha 78 anos e era pai do homem mais novo, o que perguntou sobre o resultado da partida. Ali, tinha uma oficina mecânica. O pai dos meus amigos torcia pro time contrário de seus dois irmãos e seus pais. Isso porque tinha um tio que o levava aos jogos. Esse tio, deixava o carro sempre naquele estacionamento e o costume continuou.

Fiquei sabendo, dia desses, que aquele senhor morreu. Aos 81 anos. E eu gostaria de voltar lá para conversar com o filho dele.

Meus amigos continuam deixando o carro lá, agora que já têm 18 anos e o pai desistiu de ir aos estádios. O estacionamento continua lá. Sempre conversam com o filho do senhor. Continuarão assim com seus filhos, netos...até que o estádio de seus clubes seja trocado por um mais novo.

É esse o espírito que o futebol não pode perder: o de unir. E isso foi visto hoje. Em América-MG x Inter, pouco antes do juiz apitar o início do segundo tempo, gremistas e colorados dividiam as mesmas arquibancadas. E mais: divertiam-se. Com um violão e uma gaita, longe de seus pagos, puderam sentir-se um pouco mais perto do Rio Grande do Sul.

sábado, 23 de abril de 2011

Meu nome não é Mariana

O nome dele? João. Era metido. Falava tudo o que via ou ouvia. Na inocência dos quatro ou cinco anos, dizia até o que não devia ser exposto. Contava pra mãe que a babá não o limpava direito. Na creche, nos pareceres sobre o desenvolvimento, sempre aparecia: "fala seguidamente que seu irmão mais velho o reprime". E assim era.

Quis saber o motivo de seu nome ser João. Perguntou ao irmão.
"Sei lá, meu. Não me enche o saco."
Recorreu à mãe.
"Filho, um dia fui a um médico e o nome dele era esse. Propus ao teu pai e ele gostou."
Sempre achou que fosse por causa dos nomezinhos da bíblia. O primeiro desapontamento de sua vida. Mas não se contentou com isso. Quis saber mais.
"Ô mãe, e se eu fosse guria?"
"Tu sempre quer saber tudo, guri. Por teu pai se chamar Mariano, se tu fosse guria, seria Mariana."
O nome parecia bonito. Sempre quis relacionar-se com alguém que se chamasse assim.

Cresceu. Apaixonou-se. Teve desapontamentos muito maiores que o primeiro. Relacionou-se com algumas gurias. Os nomes? Não mudavam. As pessoas sim, os nomes não.

Até pouco tempo, ainda falava muito. Media as palavras e era consciente sobre o que podia dizer. No entanto, buscava saber de tudo que acontecia. Discutia e tinha opinião sobre futebol, política e a queda do dólar. Dava conselhos aos amigos e queria conhecer o mundo.

Nunca teve nada com uma Mariana.

Agora? Faz jornalismo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

É preciso mudar (?)

Ele pegou o ônibus na primeira parada. Ela, um pouco mais adiante. O relógio mostrava 7:16 A.M.. Era uma quarta-feira véspera de feriado. Ao vê-lo, a mulher arrepiou-se. Ele fez de conta que dormia. O coletivo estava lotado e a moça rechonchuda o observava sorrindo. Ele abriu os olhos.

Desde janeiro, quando o homem anunciou o fim do noivado, ela nutriu-se de esperanças. Eram colegas de trabalho há três anos e almoçavam juntos seguidamente. Acostumada a não demonstrar sentimentos, ela apenas o ouvia durante as longas conversas. Ensaiou uma, duas, três confissões. Parava na frente do espelho e testava. Não, nunca daria certo. Ou poderia? A idade era a mesma, os gostos musicais também e o repúdio ao fanatismo por futebol talvez mostrasse que eram feitos um pro outro.
Em um feriado de integração da empresa, conheceu a noiva. Era arrogante, mandona, mas linda. Bela como poucas. Ao mesmo tempo que suas esperanças cresciam, por acreditar que beleza não era o principal, sabia que nem se emagrecesse os 15 ou 20 quilos a mais, chegaria aos pés da bela morena. Desistiu de lutar. Voltaria a pensar na hipótese, se ele ficasse solteiro.

Ao adentrar naquele ônibus lotado, pensou que ficar de pé em frente ao homem poderia engatar uma boa conversa. Ele sorriu para ela. Esperou. As mãos da moça suavam. Pensava que tinha o dever de puxar algum assunto. Três longos minutos passaram. Ele recolocou um fone.
No banco da frente, uma senhora liberou um lugar. A moça foi obrigada a sentar. O homem recolocou o outro fone, fechou os olhos e continuou seus últimos momentos antes de começar a rotina do último dia daquela semana.
A moça? Perto do meio-dia foi almoçar com ele. E apenas o ouviu. Como sempre.

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